Estou bem
- Jerusa Furbino
- 10 de mar.
- 2 min de leitura

Sei que sou dramática. Qualquer coisa me deixa neurótica, desatenta ou hiperfocada. Apesar que, ando mais desatenta que o normal. Mas o que é o normal?
Já me autoenquadrei em tantas doenças, já morri tantas vezes. E, no final, não era nada. Tô viva! Tentando ser feliz e viva! Tentando não desistir dos meus sonhos. Mas penso muito em colocar fogo nos meus livros que estão parados.
Dizem que sou louca. Muitos me dizem isso. Talvez eu seja mesmo.
Tive minha vida padrão: mulher casada, advogada, mãe de dois filhos lindos. Casa própria, carro próprio. Muitas dívidas. Pagava as dívidas e ia vivendo assim.
Separei, virei escritora. Filhos crescidos, mas que ainda precisam de mim. Sem reserva financeira. Achei que ia ficar famosa escrevendo livros. Só estou mais sem dinheiro mesmo.
Casa própria ainda. Carro, hoje é meu sustento. Virei Uber. Vendo livros no carro.
Tenho um amor. Tenho medos diários. Tenho alegrias diárias.
Não fui para a praia este ano. Pela primeira vez na vida, não tive férias em janeiro.
Sim, sou ou fui privilegiada, e estou reclamando de barriga cheia, como dizem por aí.
Mas achei que ia operar a cabeça em janeiro.
No final das contas, era só uma baixa na minha dosagem de vitamina B12 e D. Estou fazendo reposição.
Meu namorado está me estimulando a ir para a academia. Ele virou meu personal. Assim, a gente malha com gosto. Espero ficar gostosa logo. A gente puxa ferro é para isso. Depois, a gente fica saudável também. Essa é a verdade.
Me sinto bem. Me sinto mal.
Choro às vezes cozinhando, mas já peço logo para a Alexa tocar a playlist de músicas para faxina no Spotify. Músicas alegres tocando, a lágrima seca.
Estou bem.
É difícil se manter bem, mas estou no caminho...
Meditação, malhação, masturbação, pipoca com filmes piratas, sexo duas ou três vezes por semana, um coração cheio...
Eu queria ser famosa. Eu queria que as pessoas lessem meus livros.
Mas ando repetindo para mim mesma que o que eu escrevo pouco importa para quase ninguém, e tá tudo bem.
Eu estou bem.
Vou me manter bem, mesmo que eu chore sem descascar cebolas.
A vida é igual às ladeiras e buracos das ruas de Beagá. Quando você menos espera, você cai: ou no buraco, ou na ladeira...
Subo, desço, sorrio, danço e coloco purpurina na cara, porque, se ser feliz é uma escolha, eu às vezes escolho ser triste. Tenho essa mania de lembrar que não existe vida perfeita. Mas a gente pode ser alegre, mesmo sendo triste. A gente pode o que quiser. Faça o que tu queres, pois é tudo da lei... plagiando o plagiável Raul Seixas. Talvez eu vire uma bruxa Thelemista também, mas, por hora é importante sair do sofá e tomar vitamina B12.
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