Vou para a Bienal de BH como convidada!
- Jerusa Furbino
- 2 de mai.
- 3 min de leitura

É isso mesmo que você leu: vou para a Bienal de BH como convidada. Sim, convidada. Não é golpe de marketing, nem pegadinha de rede social. Estarei oficialmente na programação, participando de uma mesa de debates no dia 08 de maio, às 08 horas da manhã (porque escritor independente também madruga, tá achando o quê?), com o tema: "As diversas fases do romance: entreter ou provocar?". Dividirei essa conversa com duas potências: Natália Soares e Raíssa Baldoni.
Ano passado, fui à Bienal de São Paulo com um grupo de escritoras independentes. Uma aventura. Uma epopéia. Saí de casa com uma mochila nas costas, cheia de livros e coragem, e passei o dia pelos corredores, abordando pessoas como quem oferece amostra grátis de esperança: “Oi, posso te mostrar meu livro?”. À noite, tive direito a duas horas em um estande — duas horas cronometradas — pelo qual paguei caro para participar do grupo Escreva Garota, do qual, aliás, não faço mais parte. Voltei com os livros na mochila e a cabeça cheia de interrogações.
Mas eis que esse ano veio uma luz. A Bienal de BH resolveu olhar pra dentro, pros próprios quintais, e teve a brilhante ideia de privilegiar autoras e autores daqui mesmo, filhos dessas terras mineiras — que escrevem do lado de cá da indústria, muitas vezes no silêncio da madrugada, entre o trabalho e o desalento, esperando que alguém nos veja.
E alguém nos viu. Além da mesa de debates, terei um estande reservado na parte da tarde, onde poderei expor e vender meus livros — dessa vez sem a sensação de estar invadindo o sistema com meu sonho. Isso, pra mim, é um marco. Porque quem caminha pelas trilhas da escrita independente sabe: é difícil ser vista, mais difícil ainda ser lida. E se o combo “vista + lida + valorizada” acontecer, aí é o bingo da sorte.
Confesso, com a honestidade de quem encara o boleto como gênero literário, que não estou recebendo cachê para participar da mesa. O que, sejamos sinceras, poderia (e deveria) acontecer. Seria a cereja do bolo da tal valorização do escritor. Mas vamos por partes, como diria um certo assassino da literatura: ceder o espaço já é um avanço. Pagar pela participação seria o passo seguinte — o grande, o magnífico, o esperado. Esse dia ainda há de chegar. E quando chegar, estaremos prontas.
Ser escritora no Brasil é um desafio hercúleo — daqueles que nem os doze trabalhos de Hércules dão conta. A gente fura bolha com agulha cega, cava espaço com colher de sobremesa, costura parceria com linha de pensamento e trava batalhas diárias contra a exploração travestida de “oportunidade”. Mas sigo. Firme. Firme igual prego em angu.
Sigo porque acredito (ou insisto) que o que escrevo vai florescer. Nem que seja em terreno baldio, com raiz torta e flor esquisita. Vai florescer. Ainda hei de bater no peito e dizer: "Eu vivo da palavra!" — sem gaguejar, sem complemento, sem rodapé.
Por enquanto, faço Uber pra pagar o supermercado. Porque viver de literatura no Brasil ainda é luxo de poucos. Mas escrever? Escrever é destino. E eu sou dessas que não foge do próprio caminho, mesmo que ele seja feito de tropeços, dívidas e palavras lançadas ao vento, esperando um leitor que as colha.
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