Escrevi-um-livro-e- aí?
- Jerusa Furbino

- 4 de nov. de 2024
- 5 min de leitura

Muita gente me pergunta por que meus livros não estão nas livrarias. Bem que eu queria, mas o mundo editorial é mais voraz do que qualquer cadeia alimentar animal. O fato é que, na cadeia circular dos livros, o escritor, que deveria ser o mais valorizado por seu trabalho intelectual, é o que menos ganha nesse mercado.
Vamos começar do começo: como nascem os livros? Primeiro, surge uma ideia; depois, essa ideia vai para o papel ou para o computador, como normalmente acontece hoje em dia. O escritor passa meses, ou até mesmo anos, mergulhado em seu processo criativo, se alegra, regozija-se, passa pelo medo, pela dúvida e, com o livro pronto, tem três alternativas iniciais: ou manda o manuscrito para editoras aprovarem e publicarem pelo método tradicional, onde a editora fica com 90% e o escritor com 10% dos valores auferidos com a venda; ou ele faz tudo de forma independente, arcando com todos os custos da publicação (revisão, capa, diagramação e gráfica), mas fica com 100% dos direitos autorais sobre a venda; ou ele contrata prestadoras de serviços que fazem toda a parte burocrática em um só lugar. Aqui, ele também paga tudo, mas com a vantagem de não precisar se preocupar com a burocracia, e o livro chega até ele com 100% dos direitos autorais.
Tá, até aí tudo bem. Escrevi-um-livro-e-aí? Decidi me autopublicar, mas e agora? Como chegar aos leitores?
Eis o grande dilema filosófico e estrutural da cadeia literária! O custo da autopublicação é muito alto. O autor independente não consegue imprimir muitos exemplares e, se imprime, acaba ficando com eles encalhados até começar a dar de presente em toda festa que vai.
O que acontece é o seguinte: para um livro chegar a uma livraria, esta cobra cinquenta por cento do valor de capa. É mais ou menos assim: se um livro tem um preço de custo (gráfica, revisor, diagramação, capa) de R$ 20,00, o autor independente adiciona mais R$ 20,00 para ter um lucro com a venda. O preço final ao consumidor fica em R$ 40,00. Se ele fosse colocar o livro em uma livraria com esse valor de R$ 40,00, que seria o preço de capa, a livraria ficaria com os R$ 20,00 que o autor colocou como margem de lucro. Assim, o autor não ganharia nada, apenas cobriria os custos. O que não é vantajoso. Para que o autor receba ao menos os vinte reais desejados por livro, o preço do livro, sem o intermédio da livraria, deveria ser R$ 80,00, pois, assim, a livraria ficaria com quarenta reais (lembre-se de que a livraria fica com cinquenta por cento do preço de capa). Parece absurdo? Eu também acho. Mas quem sou eu na multidão para mudar um sistema assim? Não sou ninguém na fila da cadeia literária. Então, sigo o baile.
Ah! Mas e se o autor independente contratar uma distribuidora? Aí, ele paga também cinquenta por cento. Assim, distribuidora e livraria ficam cada uma com uma bela porção dos valores do livro. A conta ficaria assim: o livro inicialmente custava R$ 20,00; o autor coloca seus royalties de mais R$ 20,00. Se for colocar em uma distribuidora e em uma livraria, o valor do livro, que deveria ser R$ 40,00, teria que ser de no mínimo R$ 120,00. Caro, muito caro; ninguém vai comprar seu livro. A conta não fecha. Assim, o escritor independente tem portas e janelas fechadas nessa ponta da cadeia. Não existem distribuidoras e livrarias interessadas em fomentar a escrita independente.
Já no mercado tradicional, hoje existem dois tipos de editoras: as grandes e as pequenas. Em ambas o escritor não tem custo para publicar, mas, nas pequenas, elas não conseguem chegar nas livrarias com fôlego de mercado, porque passam pelo mesmo drama dos escritores independentes. Então, o escritor tem que fazer sua própria divulgação e correr atrás dos leitores da mesma forma que faria se tivesse colocado a mão no bolso. Vamos a um exemplo: suponha que o livro seja vendido a R$ 50,00 para o consumidor final. O contrato das grandes e pequenas editoras tem a mesma sede contra o escritor; ou seja, o escritor fica com 10% e a editora com 90%. Nesse exemplo, o escritor vai receber R$ 5,00 por livro vendido. Como essas editoras pequenas vendem muito pouco, vamos supor que, em um ano, elas vendam 500 exemplares do livro. 500 x 5 = 2.500. Ou seja, o escritor passou anos da sua vida, e, depois de mais de um ano divulgando o livro com uma editora pequena, ganha dois mil e quinhentos reais pelo seu trabalho.
Se ele tivesse investido por conta própria e vendido seus livros, em um ano ele ganharia doze mil e quinhentos reais. Ou seja, no mercado editorial, entre uma editora pequena que quase nada vende e a publicação independente, que também vende pouco, é melhor optar pela segunda opção, se tiver dinheiro para investir. Isso, claro, se o escritor deseja ter controle dos seus gastos e ganhos. Mas, se ele quer apenas publicar um livro por publicar, se viver da escrita não é seu ideal de vida, mas apenas a satisfação de um sonho para massagear o ego, é melhor ficar com a primeira opção, publicar com uma editora pequena, não ter custos, não vender muito, mas se realizar, ser grato e feliz.
Agora, por que todo escritor, independente ou não, sonha em publicar com uma grande editora? Porque é só por meio dela que ele finalmente chegará às livrarias, terá seu livro difundido entre os livreiros, que os indicarão para leitura aos leitores que transitam entre milhares de livros ali expostos. Mas você deve estar se perguntando: quanto, afinal, o escritor vai ganhar? Vamos para uma conta de padeiro. Vamos supor que um livro tenha o preço de capa a R$ 60,00 para a livraria; esta fica com 50%, ou seja, R$ 30,00. Dos trinta reais restantes, R$ 3,00 são do autor, que fica com 10%, enquanto a editora fica com os outros 90%. Em um livro de R$ 60,00 para o consumidor final, o escritor fica com míseros R$ 3,00. Mas acontece que, no melhor dos sonhos editoriais, esse livro vende muito. Acaso este livro venda 25 mil cópias em um ano, o escritor vai ganhar R$ 75.000,00. Viu a diferença? Aqui, mesmo ganhando pouco por livro, se o livro for bem trabalhado e vendido, o escritor ganha na quantidade. Percebeu por que todo mundo sonha com uma grande editora?
O sonho é ser lido por milhares de pessoas e, assim, de grão em grão, poder finalmente viver do que se gosta e sabe fazer: escrever.
Eu, como escritora independente, sonho com o dia em que uma grande editora me publicará. Sonho em ver meus livros nas livrarias. Sonho com o dia em que não precisarei mais ir para as ruas vender meus livros. Não sei se esse sonho vai se realizar um dia, mas pretendo não desistir. Se um dia eu desistir, saberei que lutei até onde pude.
Hoje, dirijo meu carro para sobreviver; os boletos nunca param de chegar. Estou nas redes, no meu site, aqui no blog, contando tudo isso para que haja alguma conscientização sobre esse trabalho tão solitário e tão pouco valorizado.
Quero agradecer a quem apoia o blog e acredita em mim. É por você que eu escrevo, é por você que ainda não desisti.




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