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Ode-à-Tristeza


Os peitos e a fumaça
Ode-à-Tristeza

Ode-à-Tristeza


Há uma coisa bonita em mim.

Não tenho medo de admitir.

Eu admiro a minha tristeza;

nela enxergo tanta beleza.


Enquanto o imortal poeta Friedrich Schiller,

em sua Ode, diz: "A Alegria é a bela filha de Elisio",

eu, em minha Ode, digo: "A Tristeza é a bela filha de Nix."


Mas, entenda: este poema ou prosa poética

não é para falar do paraíso onde são levadas as almas boas

ou de qualquer fascínio que a noite possa provocar.

É para falar da bela tristeza: minha irmã gêmea que ninguém nunca conheceu.


Como uma fotografia marcada pela memória,

lembro-me de mim, bem nova, sentada na beirada da janela,

testando a potência da minha goela,

fazendo ecoar gritos para a tristeza ali ficar.


E a tristeza ali ficava.

A Tristeza

aliviava, ahhhhhhhhhhh...

Parecia passe de mágica.

Era bonito ver a voz converter a tristeza

em qualquer outra coisa que já não mais me fazia chorar.


Os vizinhos já não mais se assustavam;

talvez entendessem a tristeza da menina

por já carregarem as suas malas cheias de prantos.


Do grito, às lágrimas.

Das lágrimas, ao grito:

um ritual, uma passagem para lugar nenhum,

uma porta sem entrada e sem saída,

que sempre chega sem avisar

e vai embora sem precisar colocar vassoura atrás da porta.


É assim a tristeza que carrego em meu peito.

Às vezes, ela vem com o abrir dos olhos meus, em manhãs de céu azul com nuvens brancas.

Às vezes, aproveito a ardência das cebolas, enquanto faço carne moída com batatas cozidas, ouvindo "Coração Selvagem" de Belchior.

Às vezes, ela se encanta com a lua cheia que nasce entre os dorsos dos prédios do bairro Serra.

Às vezes, a desculpa perfeita é a saudade da maré cheia e do sol escaldante iluminando a areia de uma praia qualquer.


Viu só? Minha tristeza não obedece a calendários, nunca marca hora ou lugar.

Ela caminha entre os dentes que dizem "xis" para a foto que foi parar no feed do Instagram.


A tristeza que me balança tem o mesmo embalo da rede vermelha que enfeita a minha sala.

Sempre fui apaixonada por redes; elas embalavam meus sonhos de menina até minha mãe cansar de me empurrar no eterno vai e vem e me fazer dormir em uma cama com colchão duro e sem movimento.


Acredito que foi aí que a minha tristeza se instalou de vez.

A menina que teve que aprender a dormir no colchão, hoje, mulher, corre para a rede para organizar pensamentos que cismam de arrancar lágrimas de seus olhos.


Mas quero voltar à janela com grades, que segurava meu corpo miúdo para que eu não caísse, enquanto deixava o rastro do eco da tristeza partir.


Hoje, se posso, seja em terras onde se pisa na dor ou em águas onde se molha os medos,

eu deixo o grito fazer o seu papel de novamente assustar a tristeza.


O que eu posso concluir disso tudo é que morrer é metafórico para quem sabe da importância de se ter triste para poder ser feliz.

Sinto-me como a mulher retratada pelo poetinha Vinicius de Moraes, no Samba da Bênção, onde, na transcendência da cadência do samba, ele diz:

"Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza; qualquer coisa de triste; qualquer coisa que chora; qualquer coisa que sente saudade; um molejo de amor machucado; uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher."


E aqui dentro de mim, eu sempre soube que meus sentimentos, ao se misturarem aos meus pensamentos, carregariam a mala da tristeza sem reclamar.

Entendi que a tristeza pode até me atormentar, mas não vai me matar.


Porque quando a vida balança, eu preciso lembrar da criança que gritava na janela e assustava a tristeza com seus berros.

No final, a tristeza é só uma menina assustada, que foge ao primeiro

"AHHHHHHHHHHHH..."




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