Sobre ser intenso — Quem disse que isso é bom?
- Jerusa Furbino
- 5 de out. de 2024
- 4 min de leitura

Sobre ser intenso — Quem disse que isso é bom?
Ontem vi um post de uma amiga, dessas que a gente só acompanha a vida pelo Instagram, falando sobre o seu novo amor, que conheceu há três meses, e que já estão de aliança na mão esquerda, assim, casadinhos, com papel passado e tudo.Uau! Pensei com um ar de admiração e assombro. Se, por um lado, eu admiro quem se joga às chamas do amor sem nenhum receio de se queimar, por outro — um lado filosófico que meu cérebro tem de encafifar coisas que me fazem refletir por dias — fico a pensar: Onde foi que a sociedade cismou que intensidade é uma qualidade?
Sei que tem uma passagem na Bíblia que diz que são os mansos que herdarão a terra. Não sei quem disse, e não vou procurar para citar o versículo correto. Eu mal decoro meus poemas, quanto mais decorar quem falou o quê na Bíblia, um livro que muita gente lê como única coisa na vida. Mas, como eu leio e escrevo demais, a Bíblia foi lida nos tempos em que eu ainda era religiosa, não na igreja, mas na casa espírita. Agora nem religiosa sou mais; sou uma pessoa que caminha com Deus o tempo todo. Não preciso mais de uma parede específica para me preencher por Ele. Mas isso é coisa para outra crônica. Não disse que meu cérebro vagueia por questões filosóficas que me preenchem por dias, meses, anos, e até nesses minutos em que estou tentando falar de intensidade, aí me vem esse negócio de religiosidade versus espiritualidade, enfim... Desculpe-me, leitor, pelo devaneio. Voltemos ao tema da crônica de hoje: Onde foi que a sociedade cismou que intensidade é uma qualidade?
Vejo muita gente usando a teoria de Bauman para reclamar sobre os amores líquidos, mas esquecem que parte desse rio que dilui o amor está nessa intensidade avassaladora que as pessoas colocaram como um adjetivo bem classificado nos anais da personalidade.
Sinceramente — isso é uma opinião minha, que fique claro— não pesquisei sobre a base científica do que vou falar agora: Ser intenso cansa, ser intenso é uma tarefa árdua e desnecessária. Ser intenso deveria ser um defeito grave, assim como cutucar o nariz no primeiro encontro. A pessoa está lá, se apresentando, falando do que gosta, das suas músicas preferidas, dos filmes que já viu, dos livros que já leu, você vai se interessando, e, de repente, a pessoa solta: “Sou intenso ou intensa demais, gosto de viver cada momento como se não houvesse o amanhã.” Pronto! Depois de dita essa frase ridícula, o ouvinte que escuta, ao invés de acender o alerta vermelho e pensar em fugir dali na hora, apenas sorri e responde: “Eu também.”E assim nasce mais um explosivo amor. Assim como o universo teve seu big bang, o universo particular dos intensos tem o seu big bang amoroso. Não sei se a metáfora é boa, mas, para mim, faz todo o sentido. Para você também faz sentido? Não precisa responder, foi só uma zombaria no estilo coaching provocativo.
Quando se quer viver intensamente tudo, inclusive no amor, a energia é gasta de forma rápida, e recarregar essa energia vai ficando cada vez mais difícil, até que um dia sua bateria vicia. Ou você fica ligado na tomada o tempo inteiro para usar o aparelho, ou tem que trocar a bateria. O aparelho aqui, no caso, é o coração — vou usar esse órgão representativo do amor, apesar de saber que é o cérebro que comanda essa porra toda. Mas meu lado poeta não me deixa tirar o coração da jogada.
Os intensos, aliás, vivem a discursar sobre não aguentar gente xoxa, devagar, gente que não sabe o que quer. O que, na realidade, é uma grande inverdade, pois os intensos é que nunca sabem o que querem. Eles simplesmente são viciados em adrenalina, gostam de sentir seu corpo em frenesi constante. A adrenalina é o hormônio que guia a vida dos intensos. Não que eu entenda de hormônios — aliás, eu quase nada sei — mas sei que, quando eu corro e meu coração dispara, o hormônio responsável por essa reação em meu corpo é a adrenalina, meu personal me falou.
Enfim, eu também já falei para alguns que passaram por mim que eu era intensa. Hoje, tento não ser mais. Há anos, fiz uma poesia que falava mais ou menos assim: "A felicidade é mansa, é como um arco-íris em dias de chuva." Desde então, tento ver a felicidade nas entrelinhas, na formiga que carrega uma folha três vezes maior que o seu tamanho, nas tardes de domingo com sofá e série, nas noites tranquilas que passo em concha ao lado do meu amor, no pisar na terra ou ao ouvir uma valsa enquanto cozinho para os meus filhos. É no abraço lento, é no beijo demorado, é no olhar que fixa e agradece por aquele momento. São nas coisas simples e lentas que a felicidade se adentra pelo peito. A intensidade é como um tufão que arrasta casas, carros e árvores, só traz destruição por onde passa.
Se você for o intenso que me lê, pode falar o que quiser, inclusive que estou certa e que você vai mudar, para o seu próprio bem. Fica a dica!
Mas, se você for a pessoa calma que acha que sua vida precisa de mais emoção, esqueça! Você está no caminho certo. Fuja de quem só quer te viciar em adrenalina e depois vai te descartar como aquela conta velha que já foi paga e ficou por anos no fundo da gaveta.
Muito bom! Penso que fora deste perfil de "Ser intenso" podemos nos permitir momentos de estarmos suaves e intensos.😘🤩
Importante reflexão Jerusa numa escrita leve e objetiva. Parabéns pelo blog e sucesso 👏🙌❤️
Muito interessante gostei !