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Como competir com a Lua?



Jerusa Furbino Mae e filha
Como competir com a Lua?

Como competir com a Lua?


Ela chegou com um lenço na mão, limpando o nariz que escorria de tanto chorar. Com os olhos inchados, nem me deu bom dia e começou a falar, me indagando: "O que você faria se um grande amor voltasse assim, do nada, para a sua vida, dizendo que te ama?" Isso depois de quatro anos sem nenhum sinal de fumaça.


Eu fiquei pensando: Olha! Será que o João, seu amor platônico, resolveu finalmente aparecer, logo agora que ela está feliz de novo?


Mas não respondi à pergunta feita de supetão. Com a entrada sem bom dia, ela sequer deu tempo para eu pensar em uma resposta. Antes que eu pudesse formular qualquer resposta ou outra pergunta, garantindo um processo terapêutico de excelência, ela foi se atropelando nas palavras.


— Você não vai acreditar! O Pedro estava todo estranho esse fim de semana, mais inquieto, implicante e um pouco distante, coisa rara de acontecer, visto que, desde que nos conhecemos, somos um chicletinho quando estamos juntos. De repente, vejo um aviso displicente de uma mensagem de uma tal de Lua passando na tela do celular. Eu não sou de desconfiar, você sabe, né, Glória? Ser ciumenta nunca foi o meu problema aqui nesse divã.


— Num primeiro momento, ele desconversou, disse que era uma das suas amigas, aquelas senhoras com quem ele gosta de conversar às vezes, lembra? Já te falei dessas mulheres mais velhas que gostam de tirar uma casquinha dele, mas são todas inofensivas, no final. Mas essa Lua... Eu não lembrava desse nome. Comecei a criar uma discussão, não estava acreditando que essa Lua era apenas amiga. Ele desconversou, pedi para ver o celular, e ele veio com o papinho de privacidade e todo aquele blá blá blá de quem tem algo a esconder. Eu fui ficando nervosa, descompassada, alterada. Fui tentando respirar, me auto acalmar, mas não estava conseguindo. Ele se negava a responder as perguntas que eu jogava na sua cara; ele ali parado, eu ali pirada. Até que pedi para ele ir embora. Não podia acreditar que, mais uma vez, estava sendo chifrada, como fui da última vez, pelo passado que passou. O presente deveria trazer laços de fitas amarelas, você não acha, Glória?


Continuei calada a ouvir as perguntas que ela me fazia. Não eram para serem respondidas por mim, meu papel era outro, era processar o mar de informações com suas metáforas, que ela mesma trazia em sua fala. Aretusa era assim, uma torrente de pensamentos que se embolam em perguntas metafraseadas, sem respostas aparentes.


— Eu estava tão feliz, fazia planos, já não pensava nos amores amarrotados que o tempo passou. Como concorrer com um grande amor que se chama Lua? Lua, Glória! Ela se chama Lua! Depois de muito insistir, lembrei que, lá no início do nosso relacionamento, ele me falou por alto dessa Lua, que ele namorou e sofreu por um ano a fio, quando a danada terminou com ele por mensagem de WhatsApp. Enquanto eu o indagava, buscava em minha memória qualquer resquício desse nome, até que surge: Lua era a tal ex, o grande amor que fez o danado sofrer por um ano! Agora que a casa está limpa, cheirosa, sem poeira, sem bagunça, só com vibrações dos incensos e boa energia, vem a Lua! Igual ao satélite natural que controla as marés, vem descontrolar a pedra do Pedro, que agora diz gostar de mim, mas está balançado com a Lua, que voltou dizendo que o ama! Eu fiquei me colocando no lugar dele: e se o infeliz do João reaparecesse dizendo que me ama? Eu, mais uma vez, cairia no seu papinho de araque e ficaria balançada também? Glória, eu não sei a resposta. Eu entendo o balanço do Pedro, mas estou com ciúmes, estou triste, estou me sentindo ameaçada. Mas foi isso, Glória: depois que minha memória trouxe a Lua de volta ao meu HD, ele finalmente confessou que era sua ex-namorada. Essa história de que ele ficou balançado, confuso, ou sei lá o quê, ele só me disse depois da nossa noite de sonhar. Como eu gosto de dormir com ele, de meu corpo se refazer do cansaço em seus braços... Mas meus demônios não me deixaram dormir, eles repetiam em meu ouvido que ele estava mentindo quando disse que a Lua apareceu porque estava com alguns problemas pessoais e que precisava conversar. Ele não podia deixá-la sozinha, logo ele, que sabe exatamente o que é ficar sozinho nos tempos em que estava ferrado e ninguém quis ajudar. Ele tem bom coração, por isso gosto dele, mas se fazer de salvador de ex me deixa incomodada. Nem sei por que fico incomodada, afinal eu também sou amiga do ex, que é pai dos meus filhos, aquelas três bênçãos que ainda tenho que criar. Talvez sejam minhas maiores preocupações nesse divã, né, Glória? Como você dá conta, Glória? Não cansa das minhas histórias, não? Até eu canso delas. Essas repetições.


— Mas agora é a Lua? Como competir com alguém que tem nome de satélite? É impossível. Você não acha, Glória? Glória, ela se chama Lua, foi o amor da vida dele, falou que o ama depois de quatro anos de afastamento, e eu cheguei tem pouco tempo, Glória! Meu nome é Aretusa! Como competir? A Lua produz canções para apaixonados, Aretusa produz o quê?


Interrompi o fluxo de pensamento que atravessava a fala frenética que saía da sua boca para perguntar se ela sabia que Aretusa, na mitologia grega, por não querer se casar com Alfeu, pediu ajuda a Ártemis para poder fugir e, então, se tornou uma fonte. E Alfeu virou um rio para poder passar na fonte de Aretusa, se juntando eternamente ao seu amor. Ou seja, ela quis fugir do amor, mas acabou sendo banhada por ele por toda a eternidade. Consegue ver a potência do seu nome? Eu acho que Aretusa pode, sim, competir com a Lua. Afinal, a Lua vive no céu sozinha, mesmo estando rodeada pelas estrelas. Aretusa é fonte que mata a sede. No fim, Aretusa, mesmo sendo avessa ao amor, foi banhada pelas águas de Alfeu em uma união eterna. Quem sabe Pedro não seja um Alfeu que prefere beber na sua fonte a ficar tocando violão para a Lua cheia?


— Não me fale isso, Glória! Eu não vejo o Pedro como um Alfeu! Vejo mais como um tocador de violão apaixonado pela Lua! A do céu e a da terra, que voltou para me fazer ficar assim, falante e irritante. Ele me disse, Glória, que, racionalmente, ele quer ficar comigo, que ficar comigo é bom, que ele gosta de estar comigo, gosta do que fazemos juntos, que ele se sente bem comigo. Ouviu, Glória? Racionalmente, ele quer ficar comigo. E desde quando a razão vence o coração? Hein, Glória? Eu nunca ouvi dizer que razão vence o coração! Eu já perdi, Glória! Eu já perdi! Não tem mais luta para mim. Eu sou a razão, ela é o coração! Como eu queria ser o coração, Glória! Ele não fala que me ama! Ele diz que essa coisa de falar de amor não define amor! Que ele demonstra nas atitudes, mas que atitudes, Glória! Se a Lua chega e mexe com meu mundo! Logo eu, que gostava tanto do poder da Lua e sempre me vi influenciada por ela, agora tenho uma Lua inteira para roubar o meu novo amor. Meu novo amor, Glória! Meu novo amor tão fresco como manga madura, como água pura, e eu aqui vendo-o partir, mesmo dizendo racionalmente que ele quer ficar.


— Glória! O que fazer quando um grande amor volta assim do nada, depois de quatro anos, dizendo que te ama? Me diga, Glória! Eu não sei o que eu faria, por isso eu entendo a agonia dele. É claro que eu quero viver ao lado dele, mas não quero ser a pedra no caminho de ninguém. Se ele quiser ser feliz com ela, que ele resolva e vá! Ficar comigo racionalmente, Glória! Pode isso? Glória, veja se pode!


Ela parou de falar. Tem cinco minutos que ela olha em direção ao teto, como se buscasse uma resposta. Certifiquei-me de que podia começar a produzir algum efeito e perguntei:


— Aretusa, de que é feito o amor? Da ausência ou da presença? Não existe luta entre você e a Lua. Outra coisa: o cérebro é que comanda o coração. Ele pode até bater depois da morte cerebral, mas não há mais vida. A vida só existe enquanto o cérebro e o coração batem juntos, e quem raciocina sempre faz as melhores escolhas. Deixe o Pedro resolver essa questão. A você cabe ser o presente que vem embrulhado em laço de fita amarela. Seja o que você deseja para você!


Aretusa não disse mais uma palavra. Apenas se levantou, pagou a sessão e confirmou o seu próximo horário quinzenal.


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JERUSA ALVES FURBINO DE FIGUEIREDO
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