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Um papo com Drummond na Bienal



Jerusa Furbino Mae e filha

Um papo com Drummond na Bienal


No imaginário da maioria das pessoas, ser escritor carrega um certo ar de sofisticação, como se expressar palavras em objetos encadernados, mais conhecidos como livros, trouxesse a quem escreve, de forma instantânea, uma superioridade intelectual diferente da maioria dos mortais, como cozinhar um miojo. Talvez isso se deva ao fato, também implantado pela academia — não a de malhar músculos, mas a de malhar letras — de que todo escritor é um imortal, na medida em que as palavras nunca morrem; o escritor, claro, é soterrado ou cremado como qualquer mortal, mas sua obra ficará para sempre nas prateleiras de alguma biblioteca. Aqui no Brasil, é preciso encaminhar seu livro registrado para a Biblioteca Nacional. Mas esse fato é só uma burocracia relacionada a procedimentos e normas, e nada tem a ver com o que quero desenvolver sobre ser uma escritora viva, tão longe ainda da imortalidade.


Quando decidi largar a advocacia, que também coincidiu com o fim do meu casamento de 20 anos, eu me embrenhei, sem muito planejar, no sonho engavetado feito de poesias. Naquele momento, eu só sabia o que eu não mais queria fazer. Mas como sobreviver daquele dia em diante? Confesso que eu não tinha a resposta e não fazia a mínima ideia do que fazer. Seria possível viver de sonhos? Como alcançar o status profissional de escritora, afastando-a de um hobby que se faz nas horas vagas, ao invés de tê-la por inteira nas horas cheias também?


Quatro anos se passaram, cinco livros foram publicados, toda a reserva financeira feita com a advocacia chegou ao fim, e bateu um desespero. Gravei um vídeo me mostrando do avesso, assim como a poesia faz comigo todos os dias. Meu verso tatuado na pele está aí para provar. O fato é que eu ainda não pago minhas contas com a escrita. Contudo, não posso mais me imaginar vivendo sem ela. Então, o que fazer?


O negócio é continuar a nadar, como diria o peixinho de um filme infantil de muito sucesso.

Fui para a Bienal cheia de expectativas. Era a primeira vez que eu iria participar de um evento dessa magnitude: são milhares de metros de um galpão lotado de livros, onde a palavra "sonho" pode ser lida em qualquer esquina, onde a palavra "acredite" pode ser vista no olhar de quem parou para te ouvir. Não é fácil estar ali; autora independente paga por cada passo que dá em direção ao seu sonho. Não tem almoço grátis nessa rotina.


Andei por cada canto, distribuí meus marcadores de página como políticos distribuem seus santinhos, que deveriam chamar-se "diabinhos", mas isso já é ilação fantasiosa para atrapalhar o andamento desta prosa.


Voltemos ao tema. Saí de Beagá pela manhã, peguei um voo da Latam, pousei em SP na hora do almoço, e a barriga já roncava. De Uber, fui para o hotel deixar minha muda de roupa, aproveitei e comi um PF que estava muito saboroso. Barriga cheia, cabeça a mil, outro Uber me levaria para a Bienal. Chegando lá, vi a imensidão do Trem— era gente para tudo quanto é lado. Escritor entra por uma entrada especial, a gente tem credencial e tudo, parece tão legal! Assim começou meu pé de sonho, da semente que plantei. Na Bienal eu entrei! Tirei fotos e filmei, dei uma de blogueira e tudo postei! Encontrei gente de todo tipo: tinha jovens, crianças, adultos e velhos. Todo mundo cabe na Bienal. Esse lugar realmente é especial.


À noite, fui para minha sessão de autógrafos. Nenhum autógrafo eu dei, mas voltei para o hotel me sentindo realizada, mesmo com as finanças todas lascadas! No outro dia eu voltei, e foi aí que encontrei alguém muito especial para prosear. Era meu amigo, o imortal Carlos Drummond de Andrade! Sim, ele estava na Bienal! Agora vou deixar de rimar para voltar a contar que conclusão eu cheguei do papo que levei com meu conterrâneo das Minas Gerais.


A conversa com meu amigo poeta foi promissora. Ele inclusive puxou minha orelha, dizendo que fui muito audaciosa em largar tudo sem um grande planejamento. Ele sempre foi funcionário público para cobrir as contas de água e luz no fim do mês. Eu disse que até tentei, inclusive em concursos passei, mas, infelizmente, não chegou a minha vez na lista de convocados, e morri na praia com a expectativa de ser empossada oficial de justiça, fazendo assim da escrita uma paixão paralela, uma amante que sempre se espera cheirosa e feliz para te contar sobre seu dia. Derramei minhas dores, e ele me disse: "O que está feito está feito; não se remedia o que não tem remédio. Agora é seguir em frente, de cabeça erguida, há de se encontrar uma saída."


Assim eu entendi que não existe travessia sem pedras, não existe êxito sem fracassos, não existe riqueza sem investimentos, não existe livro sem palavras, não existe borboleta sem metamorfose!


Ele ainda me disse: "Poeta de coração alegre, leve esse seu sorriso por onde for. Deixe as lágrimas para os momentos de emoção que fazem vibrar o coração. As lágrimas da dor e do desespero devem ser lavadas em águas correntes, para que não façam moinho dentro de nós."


Então devo apagar o vídeo que eu fiz? Perguntei, em busca de mais conselhos. "Não, minha querida poeta. Lembra o que eu disse há pouco? O que está feito está feito; não se remedia o que não tem remédio. Agora é seguir em frente, de cabeça erguida, há de se encontrar uma saída!"


Pois é, meu povo, ser aconselhada por Drummond não é para qualquer um. Talvez poetas tenham esse privilégio de conversar com um imortal, mesmo estando vivos nessa matéria estranha, densa e capitalista, onde até a poesia vira mercadoria para poder pagar o pão amassado e assado pelo padeiro que vende seu suor ao dono da padaria.


Despedi-me do amigo poeta, continuei a arrastar minha mala cheia de livros por toda a Bienal, parei de ser absorvida pela preocupação do prejuízo que tive para estar ali, e comecei a observar os olhos brilhantes das pessoas diante de um livro, fazendo filas para um autógrafo do seu escritor preferido. Comecei a me ver ali, naquele lugar, as pessoas vindo conversar comigo sobre meus textos, minhas histórias, meus poemas... Se o dinheiro vai, ele também vem. Se agora empurro mala, distribuo marcadores de página e vou atrás das pessoas para me apresentar e apresentar o meu trabalho, um dia as pessoas também virão até mim para conversar, comprar meus livros e discutir versos e os avessos das palavras. A terra é redonda, a cabeça também; assim fazemos circular ideias, pensamentos, sonhos, e juntamos letras para construir pontes que se interligam em livros e transformam vidas! É isso! É isso que eu quero para mim! É isso que eu quero para você! Um mundo onde possamos ser o que queremos ser, e crescer seja consequência natural de quem ousar viver de sonhos!

 

 

8 comentários


Paulo Henrique
Paulo Henrique
18 de set. de 2024

A cada passo vou me tornando seu maior fã, se eu pudesse ou tivesse um poder para lhe mostrar um caminho mais leve eu o faria acontecer, mas como está em suas próprias palavras, não existe travessias sem pedras, nem êxito sem fracassos, que tudo vire histórias, contos e poesias para que chegue onde vc queira estar.

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Jerusa Furbino
Jerusa Furbino
31 de jan.
Respondendo a

Vamos juntos escrevendo nossa história! que ela seja bonita e boa de ler e viver!

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Convidado:
15 de set. de 2024

Huhu!!!

Que descrição perfeita dos caminhos marcados nas vidas de tantos que se aventuram a crer que o reconhecimento como escritor profissional independente é possível!!

Descemos e tornamos a subir montanhas. Quem sabe um dia nos vejam, nos leiam e nos reconheçam!

É assim que se resume esse sonho pelo qual lutamos para concretizar.

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Jerusa Furbino
Jerusa Furbino
31 de jan.
Respondendo a

é verdade! a vida é isso! aguardo o dia do encontro com os leitores!

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Fernanda Oliva
Fernanda Oliva
14 de set. de 2024

Parabéns Jerusa! Adoro sua escrita e seus sonhos logo se tornarão realidade!

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Convidado:
14 de set. de 2024

Adorei Jerusa! Torço muito por você! 🌹

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