Onda de Calor- Fogacho- Fumaça- Desmatamento

Onda de Calor- Fogacho- Fumaça- Desmatamento

Que título é esse, Jerusa? Uma mistura de elementos que estão fazendo da minha semana um verdadeiro caldeirão de emoções: uma onda de calor pessoal e outra ambiental.

De domingo para segunda, tive a minha primeira onda de calor severa, aquela coisa que as mulheres após os quarenta costumam ter. Dizem que é a tal da menopausa. A pausa dos hormônios que nunca nos deixam em paz! Mas falando sério, era madrugada e Paulo dormia profundamente ao meu lado. Eu, coberta por um lençol e uma manta fina, comecei a sentir que a coberta estava quente demais. Arranquei-a e fiquei só com o lençol, mas em poucos minutos ele começou a parecer uma manta de fogo. Meu corpo foi tomado por um calor intenso, como se estivesse queimando, comecei a transpirar de forma intensa, o corpo com seus mecanismos de defesa, escorre águas para aplacar o fogo que arde a carne.

Já pensei: “Pronto, chegou de vez. A menopausa!” Eu já tinha comentado algumas coisas com meu ginecologista, que, aliás, mudei para uma ginecologista mulher. O antigo médico só dizia que a menopausa é um processo natural do envelhecimento da mulher, que é preciso paciência. Eu ali, querendo exames hormonais e ele nada. Saí frustrada e decidi procurar uma mulher. Agora, estou pensando em ir a uma endocrinologista, porque parece que ginecologistas têm um complô para não investigar nossos hormônios. Não encontrei a tal da sororidade feminina. Definitivamente, eu não quero sofrer para envelhecer, a gente já sofre demais para crescer, desde o dia em que saímos da barriga de nossas mães.  

Essa história toda, é para dizer que peguei fogo de domingo para segunda, meu corpo queimava, eu ali achando tudo horrível, mas pensei: Calma, Jerusa, se é uma onda de calor, vai passar logo, como uma onda do mar, que quebra na beira da praia, dissolvendo-se em espumas para enfeitar o olhar de quem molha os pés para se refrescar. Então em meia hora, mais ou menos, tudo estava em seu lugar, meu corpo nu que estava em chamas, agora tremia de frio, puxei o lençol, me aconcheguei perto do Paulo e consegui voltar a dormir.

Ao acordar, enquanto tomava o café, contei toda a experiência para o Paulo, que nada viu, enquanto sonhava. Disse a ele: “É, você resolveu gostar de mim, em uma fase difícil, que muitas mulheres ficam doidas. Tá preparado para a menopausa?” Ele riu. Sacudiu a cabeça de forma que dissesse sim. E eu, fiquei satisfeita com a resposta, calada, mas afirmativa. Tem horas que é melhor imaginar, pois as palavras podem estragar algo bom. Vamos ver, onde esse fogo nos levará!

Mas não foi só meu corpo que queimou. Na segunda-feira, o céu de Beagá amanheceu encoberto pela fumaça, produzida pelo fogo que se alastra pela Serra do Curral e demais patrimônios naturais dessa cidade que um dia foi um Belo Horizonte, mas agora, tem o céu encoberto por felugens, transformando a umidade do ar em um deserto. Aqui na minha rua, a prefeitura assassina de árvores, matou as três árvores frondosas que traziam sombra e refresco para esse asfalto medonho. E assim, como na minha rua, toda a cidade está enfrentando a destruição da motosserra.

O resultado está aí. Queimadas, clima de deserto, problemas respiratórios, ondas de calor intensa. Esse ano, eu não tirei nenhuma “bludefri” pesada do armário. Só essas fininhas de tapar uns ventinhos pela manhã. O inverno passou sem seus ventos gelados, sem seu glamour, sem as temperaturas caírem a ponto de desejarmos nos aquecer em frente a alguma lareira.

Hoje já é quinta-feira e o céu continua tomado pela fumaça. O ventilador aqui em casa, já sopra sem parar o vapor do inferno produzido pelas ações do homem capeta.

É minha gente, meu fogacho, veio junto com o fogo criminoso e irresponsável dessa gente mesquinha que acha que a natureza pode viver sua menopausa sem reclamar. Aguarde, a revolução! A natureza é a que vai dar a resposta final.