Três Minutos
- Jerusa Furbino
- 18 de jul.
- 1 min de leitura

Três minutos
Crônica de Jerusa Furbino
Me aconselharam a manter a escrita como hobby. Então fiz diferente: escrevo profissionalmente e, por passatempo, dirijo Uber para sobreviver. Viver de arte ainda é um sonho distante. Mas a crônica não é sobre as dificuldades do artista independente no Brasil. Deixo isso para as lágrimas no chuveiro.
Aceitei uma corrida, e a voz do aplicativo disse: “Três minutos para o embarque de mãe.”Olhei para a tela, para ver se tinha escutado direito. Mãe. Era o nome mesmo.
Nesses três minutos, fui levada a sonhar com o encontro com a minha mãe. Imaginei eu parando o carro e ela entrando, pronta para irmos a qualquer lugar onde não existisse a morte como partida definitiva. Na minha cabeça, falei: “Bom dia! Estava com saudades...”
Nesses três minutos — tão rápidos quanto preparar um miojo — procurei, no jardim da minha fantasia, por minha mãe. Por esse encontro que já não é mais possível. Tenho sonhado tanto com ela, que por um instante eu quis que seu fantasma soubesse chamar Uber e me encontrasse naquela rua de nome de flor.
Encontrei a “mãe” do aplicativo. Em nada se parecia com a minha. Levei-a ao seu destino enquanto ela falava sem parar ao telefone com alguém. No final, me desejou bom dia e bom trabalho — como fazem todos os passageiros...
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